Pesquisa do Centro de Oncologia Bucal da Unesp em Araçatuba é publicada na revista Cancer
Por: Fábio Mazzitelli
Imagem: Centro de Oncologia Bucal da Unesp / Divulgação
A psicóloga Bruna Sarafim e o
professor Daniel Bernabé: histórico de episódios traumáticos na infância
deve ser considerado durante o tratamento de câncer de cabeça e pescoço
O estudo, que deriva da dissertação de mestrado da
psicóloga, reuniu avaliações clínicas, dados biocomportamentais e
psicológicos de 110 pacientes com câncer de boca, orofaringe ou laringe
do Centro de Oncologia Bucal da Unesp, em Araçatuba (SP). O estudo foi
publicado nesta segunda-feira (6) pela revista científica Cancer, da Sociedade Americana de Câncer e uma das mais conceituadas na área de oncologia.
No grupo do estudo, os pesquisadores detalharam os
níveis de trauma psicológico que os pacientes passaram na infância, por
meio de questionários com perguntas específicas para cinco subtipos de
trauma: negligência física (omissão de cuidados); negligência emocional
(indiferença em relação às demandas emocionais da criança); abuso físico
(comportamentos que levam a agressões corporais); abuso emocional
(humilhações, insultos e agressões verbais); e abuso sexual (estupro).
Cerca de 95% dos pacientes com câncer de cabeça e
pescoço relataram terem vivenciado pelo menos um evento traumático no
período infantil. O principal tipo de trauma na infância reportado pelos
pacientes foi a negligência emocional, como a ausência de afeto ou de
apoio emocional. Pela primeira vez, foi demonstrada uma associação entre
os diferentes subtipos de trauma na infância com dados clínicos,
biocomportamentais e psicológicos de pacientes com câncer. Além disso, o
estudo foi o primeiro a avaliar a influência do trauma infantil sobre
os níveis de ansiedade em pacientes com câncer de cabeça e pescoço.
A pesquisa aponta que o trauma na infância foi fator
de risco para sintomas emocionais dos pacientes oncológicos. Os
pacientes que relataram maior ocorrência de eventos traumáticos na
infância apresentaram quase 12 vezes mais chances de apresentarem níveis
elevados de depressão após o diagnóstico do câncer e antes do início do
tratamento. Já os pacientes que relataram maior ocorrência de
negligência física na infância tiveram 4 vezes mais chances de terem
níveis aumentados de ansiedade.
Além disso, maior ocorrência de negligência emocional
foi associada a um histórico do paciente de maior consumo de álcool. O
alcoolismo, juntamente com o tabagismo, são os dois principais fatores
de risco para o desenvolvimento do câncer de cabeça e pescoço. O estudo
também encontrou que os pacientes com a doença em estágio avançado
relataram maior ocorrência de negligência emocional na infância em
relação aos pacientes com a doença em estágio inicial.
“Nosso estudo representa um importante passo para uma
melhor compreensão dos mecanismos envolvidos no abuso do consumo de
álcool e na ocorrência dos sintomas de ansiedade e depressão em
pacientes diagnosticados com câncer. Além disso, fica cada vez mais
consolidado que eventos traumáticos experimentados na infância podem
influenciar aspectos psicológicos e comportamentais em fases posteriores
da vida”, diz a psicóloga e autora do estudo Bruna Sarafim-Silva.
“A história de vida do paciente, incluindo os
sentimentos derivados de traumas psicológicos ocorridos na infância,
devem ser considerados pela equipe de saúde responsável pelo tratamento
oncológico”, complementa o professor Daniel Bernabé, que tem como linha
de pesquisa “Psicossomática e Câncer” e estuda com sua equipe a
influência dos fatores psiconeuroendócrinos e comportamentais sobre a
progressão do câncer de cabeça e pescoço.
Fonte: Unesp
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